Existe hoje uma questão fundamental no contexto da formulação estratégica nas organizações: as definições e desdobramentos estratégicos serão mais bem conduzidos por um processo de planejamento ou de pensamento estratégico?
A estratégia empresarial pode ser planejada, a partir de um processo estruturado, onde os principais líderes empresariais devem fazer as perguntas certas, discutir as respostas encontradas, buscar o consenso, decidir como competir a partir dessa análise planejada e formalizar as estratégias no plano estratégico ou plano de negócios.
Onde ficam a intuição e criatividade, necessárias, diria mais, imprescindíveis, em face de dinâmica do mundo globalizado ?
A Cultura do Planejamento Estratégico
No processo do planejamento estratégico a palavra chave é análise, ou seja, o desmembramento dos principais aspectos relacionados com a estratégia empresarial em várias partes. O objetivo é conhecer a natureza da organização, suas intenções estratégicas, objetivos de longo prazo, seu ambiente de competição, fatores externos e internos e, então, traçar objetivos e metas de médio e curto prazo e os correspondentes planos de ação.
Considerando que a análise do ambiente competitivo, com seus aspectos externos e internos à organização foi bem conduzida, e que as hipóteses de causa e efeito no detalhamento de planos de ação para o dia-a-dia foram corretamente estabelecidas, a implementação desses planos deve levar à realização dos objetivos estratégicos.
O que pode ser questionado neste processo, digo, quais os riscos ?
Um planejamento formal, com ações previamente estabelecidas, pode levar a organização na direção errada, particularmente num mundo onde a mudança das condições de competição é ato contínuo. Mas, como provocar as mudanças necessárias na organização sem que planos formais de ação possam ser implantados e monitorados? As ações planejadas para médio e longo prazo, não podem ser consideradas “decisão tomada” que, portanto, não será mais questionada, e assim “a ordem é: cumpram-se os planos”. De fato, o plano estratégico formalizado e rígido deve ser alvo de revisões sistemáticas, seja para a confirmação ou para o realinhamento dos objetivos, metas e ações.
A Cultura do Pensamento Estratégico
No processo do pensamento estratégico a palavra de ordem é “síntese”, ou seja, a reunião de elementos concretos e abstratos em um todo, que trata da complexidade de um grande volume de informações, assume que os riscos inerentes são naturais e, assim, faz uso de intuição para a tomada de decisão e de criatividade para o desenvolvimento de novas abordagens para problemas antigos. Para esta escola, ter estratégia significa ter consistência de comportamento ao longo do tempo.
Os adeptos do pensamento estratégico consideram que frente ao dinamismo do mundo atual é preciso pensar adiante, bem como realizar adaptações ao longo do percurso, e que isto é muito difícil num processo de “planejamento formal”. Para eles, não existem estratégias puramente deliberadas e planejadas. Assim, a realização dos objetivos estratégicos só será alcançada com uma formulação estratégica fundamentada em diretrizes gerais, mais estáveis, e com planos de ação para o dia-a-dia emergindo ao longo do caminho.
Qual o risco deste processo?
Ao deixar para definir planos de ação na medida em que as demandas surgem, mesmo que alinhadas por diretrizes gerais, a organização pode especializar-se em “apagar incêndios”, confiando demasiadamente em sua capacidade de provocar as mudanças organizacionais com vistas à realização da estratégia, processos demorados, com alto grau de resistência interna.
Pode até mesmo perder o foco estratégico ao longo do caminho. A cada mudança percebida, novas decisões são tomadas e novos planos de ação são encaminhados para manter o alinhamento da operação com as diretrizes estratégicas gerais, num processo de controle e aprendizado contínuo.
Afinal, planejamento e pensamento estratégico são opções distintas?
Podemos abrir mão de um processo em favor do outro, para maximizar os resultados?
Podemos concluir que a resposta à questão “planejamento ou pensamento estratégico?” não passa pela escolha de uma ou outra escola de formulação de estratégias. Não existem, de fato, divergências nas duas escolas. A maximização dos resultados exige o desenvolvimento da “cultura estratégica” na organização, estabelecendo e amplificando a atenção de todos para questões estratégicas nos acontecimentos diários, promovendo a consistência de comportamento em longo prazo e a estruturação de um sistema estratégico, facilitando a definição e o controle de um curso de ação para o futuro.
Ao desenvolvimento da “cultura estratégica” podemos associar a escola do pensamento, e à estruturação do “sistema estratégico” a escola do planejamento.